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10 de out. de 2013

Paulo Vicente: Tendências Para o Futuro

Estive no "Seminário Internacional Tendências Para o Futuro", realizado em Vitória-ES na data de 09/10/13. A seguir, apontamentos realizados durante a palestra do professor Paulo Vicente dos Santos Alves, da Fundação Dom Cabral.


O palestrante destacou que sua análise tem por base modelos matemáticos de ciclos de crescimento econômico e estagnação, além de observações históricas e sobre a realidade. Ressaltou que faz uma análise de tendências, não querendo isso dizer que se tratem de projeções que de fato venham a se verificar. Seu objetivo primordial é permitir a reflexão sobre as perspectivas futuras.
Desse modo, o professor observa um grande potencial de crises para a próxima década, que atingirá vários países, envolvendo aspectos como colapso dos sistemas de aposentadoria, queda na oferta de petróleo frente à crescente demanda, problemas na disponibilidade de água e perspectiva de aumento de inflação e impostos.
A tendência, que já se verifica atualmente, de demanda populacional por mais e melhores serviços públicos, deverá continuar. E também a questão do acirramento do terrorismo, com adoção de políticas de segurança nacional e diminuição das liberdades. Trata-se de um cenário de perspectiva de crise institucional.
Diante disso, o século atual deve ser marcado por ciclos. Teremos um período de crise, que já atravessamos e deve se intensificar na década de 2020. Depois, prevê-se a consolidação de revoluções tecnológicas, que darão início a um período de exuberância. Por fim, esse modelo chegará a seu esgotamento, dando início a um novo período de crise. O ciclo se repete. Trata-se, porém, da constatação que o capitalismo é um sistema que constantemente se renova com as crises, ao contrário do previsto em doutrinas como o marxismo.
Sobre a perspectiva de revolução tecnológica, o palestrante fundamenta essa visão na observação do grande investimento em inovações que vem sendo realizado nos Estados Unidos. A esse respeito, ele indica o acompanhamento das pesquisas realizadas no âmbito do Departamento de Defesa do governo americano. Destaca, primeiramente, mas não só, as perspectivas de avanço na área de robótica.
Ele acredita que, em cerca de 20 anos, serão viáveis implantes no cérebro para aumento da capacidade mental. Prevê a tendência de ascensão das máquinas, que devem tornar a capacidade do cérebro humano obsoleta por volta do ano de 2060. Acredita que será comum a implantação de partes artificiais no corpo humano, tornando o homem um ser híbrido (cyborg). E aí pode-se questionar qual seria o futuro da espécie humana, diante dos desenvolvimentos tecnológicos.
Todavia, existem muitos projetos em fase de desenvolvimento que tornam difícil a realização de previsões, por apresentarem ainda ares de ficção científica. É o caso, por exemplo, da exploração espacial, que deve ter novo impulso daqui a 40 ou 50 anos.
Observa o professor que, além dos EUA, outros países estão procurando se alinhar a essa nova tendência de mudanças advindas de inovação tecnológica. É o caso da Coréia do Sul, Alemanha e Japão. Por outro lado, nos chamados países emergentes (entre os quais o Brasil), tal movimento não é percebido. Do mesmo modo, tem dúvidas quanto ao futuro do modelo chinês, que precisaria se reinventar, com abertura política - pois considera a renovação e a contestação de ideias como aspecto fundamental para inovação.
A esse respeito, ele destaca a importância no investimento na formação de recursos humanos, em educação. Implicitamente indicando que isso deve se dar num ambiente de abertura política e econômica.
O palestrante destacou que observa os seguintes candidatos para potência hegemônica do futuro:
EUA + MÉXICO - Trata-se da potência mais provável. Entende que, cada vez mais, EUA e México serão considerados como um único bloco econômico. Inclusive acha possível que, com o crescimento da população hispânica nos EUA, possa ocorrer alguma forma de fusão entre os dois países, constituindo-se uma federação.
A esse respeito, o palestrante observou que uma das tendências dos Estados Unidos é o investimento na substituição do trabalho humano. Com o uso da robótica e da inteligência artificial, o país trará de volta a atividade industrial para seu território. Isso já vem acontecendo e fará grande diferença nas relações internacionais nos próximos dez anos.
Por exemplo, o professor destaca a exploração de xisto, como fonte de energia economicamente viável, que deve tornar desinteressante a exploração de boa parte das reservas de petróleo no Brasil (pré-sal).
ÍNDIA e CHINA - São países com população muito grande, mas que dispõem de poucos recursos. Inclusive, atualmente, vem se observando uma espécie de corrida colonial da Índia e da China em direção à África.
BRASIL e AMÉRICA DO SUL - Nesse caso, ele considera uma certa fusão do Brasil com os demais países da América do Sul. Entende que o Brasil tem a tendência de assumir uma postura imperialista na região, marchando em direção ao Oceano Pacífico através da migração e miscigenação de sua população com as das outras nações.
Porém, no caso brasileiro, a perspectiva é de períodos complicados para os próximos governos, com impacto direto do aprofundamento do contexto de crise internacional. Assim, deve ocorrer alguma mudança institucional em decorrência desse cenário (e pode ser a instauração de um governo ditatorial).
Por fim, questionado sobre a possibilidade de uma fusão mundial, o professor Paulo Vicente disse que essa hipótese pode ser considerada num cenário de prazo muito mais longo. Entende que primeiro teremos a consolidação de uma nova potência mundial e que, se ocorrer, um governo mundial seria decorrente de um cenário de necessidades decorrentes da conquista espacial.

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