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7 de jul. de 2022

A Ingenuidade Verde

 

"O Otimista Racional" (The Rational Optimist) tem um título que o desvaloriza, dando a entender tratar-se de algo relacionado a auto-ajuda. Na verdade, porém, é um excelente livro sobre economia, história e sociologia.

 


Entre vários tópicos relevantes, é tratada a questão da revolução agrícola, cujo uso de sementes geneticamente selecionadas ou modificadas, de fertilizantes e de pesticidas permite hoje que bilhões de pessoas sejam alimentadas sem aumento na área total cultivada, preservando o meio ambiente. Destaco:

 

Considere esta extraordinária estatística, calculada pelo economista Indur Goklany. Se as produtividades médias de 1961 tivessem prevalecido em 1998, alimentar 6 bilhões de pessoas teria exigido lavrar 7,9 bilhões de acres, em vez dos 3,7 bilhões arados de fato em 1998: uma área extra do tamanho da América do Sul menos o Chile.

  

Dito isso, lembrei-me de quando cursei o Executive MBA na Business School de São Paulo[1], nos anos de 2004 e 2005. Um professor americano, que lecionava disciplina relacionada a economia, apresentou a ideia que, diante da discussão à época a respeito do uso de sementes transgênicas, o Brasil deveria adotar a estratégia de não fazer uso de sementes geneticamente modificadas (como se fosse possível impedir a entrada de sementes no país). Com isso, defendia ele, haveria argumento para exportar um produto diferenciado e até mais caro.

Veja que se tratava de um professor em curso direcionado para executivos, a maioria dos quais trabalhando em cargos de direção em grandes organizações.

Imagine o desastre que resultaria a adoção de uma ideia dessas. Seriam necessárias mais áreas de produção, resultando em degradação ambiental, para produzir a mesma quantidade ou até menor. Além disso, como os últimos anos vêm demonstrando, o mundo ficaria privado de um país relevante na produção de alimentos, de modo que essa ideia contribuiria para a fome.

O que levaria um professor, nesse tipo de instituição, a defender tal ideia?

Incapacidade, visão estreita, motivos escusos? Ou pura ingenuidade, de alguém que apenas acompanhava o noticiário padrão, dado que aplicativos como Youtube só iniciaram a partir de 2005?

A questão é que esse tipo de visão, relacionada ao ativismo verde ingênuo e/ou manipulado, há muito é disseminado na visão de professores, alunos e empresas. E o atual modismo das práticas ESG (Environmental, Social, and corporate Governance) tem o potencial de causar grandes danos, em prejuízo social e ambiental.

 

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

RIDLEY, Matt. O Otimista Racional. Rio de Janeiro: Record, 2014.



[1] https://bsp.edu.br/