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17 de out. de 2013

Paulo Guedes: Fórum Liberdade e Democracia

Seguem alguns apontamentos que registrei na palestra do economista Paulo Guedes, no Fórum Liberdade e Democracia ("Brasil, país do futuro, até quando?"), realizada em Vitória-ES, no dia 14/10/2013.

Com o colapso do socialismo, e desde então, cerca de 3,5 bilhões de pessoas entraram no mercado de trabalho, tornando a geração de empregos a grande questão mundial. Verifica-se muita gente disposta a trabalhar com poucos direitos (baixos salários, jornada extensa etc.), sob regimes totalitários (como é o caso da China). Tal situação criou um desafio de competitividade brutal e colocou em crise o Ocidente.
E não se trata apenas da disponibilidade de mão de obra para tarefas simples, pois 35% dos estudantes nas universidades americanas são asiáticos. Esses indivíduos representam uma grande quantidade de pessoas que trabalham muito, estudam muito e, se vivem num regime totalitário, não podem reclamar ou reivindicar.
Não obstante, a distribuição de renda no mundo vem melhorando. Afinal, antes, nos regimes socialistas, a situação de miséria dessas pessoas era muito pior.
O grande problema é que o Ocidente ainda não está se adaptando a essa realidade. É por isso que temos a percepção que o mundo piorou.
Nesse contexto, verifica-se que o sistema financeiro americano quebrou e vem sendo feito um ajuste, nos últimos anos, para "religar o sistema", com a redução da exposição (alavancagem) das instituição financeiras. Porém, o custo desse ajuste tem sido muito alto, com a impressão de mais de US$ 1 trilhão por ano, por determinação do Banco Central americano.
Mais que isso, tal movimento de aumento de liquidez e redução de juros tem fomentado novas bolhas especulativas, que se mostram cada vez maiores. Espera-se, agora, a bolha dos títulos de obrigações (bond bubble). Com as taxas de juros americanas artificialmente baixas, os investidores foram levados a buscar títulos de maior rendimento em diversos países e a propensão a aplicações de risco aumentou.
Paulo Guedes acredita num cenário de queda nas bolsas e aumento na cotação do dólar. A perda decorrente dessa bolha será dividida entre os mercados, não mais se concentrando nos Estados Unidos (é como se os EUA estivessem empurrando seu problema para fora).
Se, de um lado, tem-se um problema de excesso de financismo nos Estados Unidos, de outro, verifica-se a crise do Estado do Bem-Estar Social na Europa.
Guedes ressalta o absurdo do modelo europeu, de concentração de renda nas mãos do Estado, o que acaba beneficiando o interesse de políticos em detrimento de quem realmente gera renda na sociedade. Os europeus transformaram o Estado numa máquina de extração de recursos e criação de gastos. Pela concessão de excesso de direitos, desestimularam a geração de empregos e comprometeram a capacidade econômica das novas gerações, que não conseguem mais trabalho. É como se os governos tivessem se tornado uma arma contra a população, ao invés de servi-la. Diante disso, já existem sérias dúvidas se a social democracia, que constitui o modelo europeu, é viável num mundo globalizado.
No entanto, isso não significa o fim do euro. Observa-se que a moeda continua forte, justamente por ter caráter internacional, estando fora do alcance da classe política.
Diante desse cenário, a situação do Brasil não se mostra favorável. Aqui predomina justamente a ideologia social-democrata, por isso não existe uma dinâmica de crescimento econômico.
Cabe observar que o Brasil já teve um momento interessante, como "país do futuro". Foi o país que mais cresceu nos primeiros 75 anos do século passado, não por acaso quando a carga tributária e a estrutura estatal tinham um peso menor.
A partir do período de ditadura militar, porém, houve uma escalada de impostos, com maior estatização da economia e centralização de arrecadação para o Governo Federal. E essa maior intervenção estatal colocou o Brasil numa armadilha, que impede a realização de seu potencial de crescimento econômico.
Atualmente verificamos o aumento de regulamentações e direitos, que vem sendo responsável pelo processo de desindustrialização. E, pior, o Brasil caminha para o mesmo problema europeu, porém sem antes ter se tornado um país rico. Os próximos 15 anos serão decisivos a esse respeito. Ou o país aproveita o bônus demográfico desse período, ou vai quebrar em decorrência do excesso de intervenção estatal.
Observando a América do Sul, verifica-se que Chile, Peru e Colômbia estão se integrando ao mercado global, pois fizeram reformas e vêm registrando crescimento contínuo. Por outro lado, os países peronistas e bolivarianos (como Venezuela, Argentina e Bolívia) estão condenados ao fracasso. Por sua vez, o Brasil tem se mantido numa posição intermediária, onde o foco se mantém na disputa pelo poder político, pela apropriação do aparelho público e seus recursos.
Não obstante, Paulo Guedes ainda tem uma visão otimista quanto ao futuro. Considera que a classe média está insatisfeita e dispõe de novos meios de comunicar sua indignação, graças à internet. Espera, assim, que a forma convencional de se fazer política seja surpreendida com o crescente grau de rejeição - que já é maior do que parece.

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