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18 de ago. de 2014

O Triste Fim de Policarpo Quaresma

Lima Barreto apresenta nesse romance uma triste realidade que ainda se mostra bastante atual, qual seja, a ênfase no bacharelismo, a valorização de títulos antes do caráter e das ações, a adulação hierárquica, o uso de máscaras sociais (sociedade de aparências).


Policarpo Quaresma é um personagem um tanto quanto caricato, por seu nacionalismo exacerbado, em busca de uma cultura originária brasileira. Mas suas características exageradas servem de contraponto à superficialidade, às intrigas, às relações que caracterizam a sociedade.
Assim como em outros trabalhos, Lima Barreto lança seu olhar questionador e decepcionado com o Brasil, um país que teria tudo para progredir, como acreditava Policarpo Quaresma, mas, pelas características de sua sociedade, possui travas que impedem a exploração de suas potencialidades e o desenvolvimento da nação.
Na primeira parte do livro, Policarpo Quaresma é um funcionário público, trabalha no Exército em funções burocráticas, e tem uma vida pacata. Destaca-se o preconceito quanto ao caráter autodidata de Quaresma, possuidor de muitos livros, apreciador de pesquisas e leituras.
Quaresma acaba por ser considerado louco e deixa o serviço público. Adquire um sítio, onde procura cultivar lavoura. Passa, então, a compreender a dificuldade que é ser empreendedor no Brasil, escorçado por interesses políticos, inveja, burocracia, impostos etc.
Depois disso, Quaresma deixa seus projetos na agricultura e volta a atuar no Exército, onde participa da Revolta da Armada (1893-1894) ao lado das tropas de Floriano Peixoto. Termina, porém, se revoltando contra as práticas adotadas pelo governo, o que o leva a seu triste fim.
Policarpo Quaresma apresenta uma ingenuidade por ser genuíno, por não se adequar às politicagens, apadrinhamentos e convenções do poder e suas relações. Assim, desagrada o status quo e torna-se um pária, alguém inadequado a uma sociedade rígida e intolerante que caracteriza o Brasil.

REFERÊNCIA CONSULTADA:
BARRETO, A. H. de Lima. O Triste Fim de Policarpo Quaresma. Disponível em:  <http://tinyurl.com/3gds8vs>. Acesso em: 17 ago. 2014.

2 de ago. de 2014

Pólo Moveleiro de Linhares-ES

* Texto adaptado do Capítulo 4 da dissertação de mestrado "Sistemas de Remuneração Por Desempenho: Uma Abordagem Com Base na Teoria da Contingência" - disponível no link: http://tinyurl.com/purgvbu

1. A Indústria de Móveis no Brasil
O setor moveleiro no Brasil se desenvolve principalmente a partir da década de 1970, voltado ao atendimento da demanda interna, sem uma estratégia para competição no mercado internacional (Guedes, 2008. p. 100).
Em decorrência disso, o Brasil tem, historicamente, inexpressiva participação no mercado mundial de móveis, com cerca de 1% do market share global (Rodrigues, 2006, apud Behr et al., 2010).
Na produção moveleira nacional, destaca-se o segmento de móveis de madeira para residência (camas, mesas, cadeiras, roupeiros, criados etc.), que responde por aproximadamente 60% do total (Murad, 2007, p. 32).


Verifica-se que a produção de móveis no Brasil é regionalmente concentrada, principalmente nos estados do Sul e Sudeste, onde se realiza cerca de 90% da fabricação nacional. O setor é formado principalmente por micro e pequenas empresas, de capital nacional, com grande absorção de mão de obra (Villaschi & Bueno, 2002; Albino et al., 2008; Behr et al., 2010; Mafia, 2005, p. 49; Valença, Pamplona & Souto, 2002).
Assim, podemos dizer que o setor moveleiro se caracteriza pela formação de "arranjos produtivos locais" ou clusters (Mafia, 2005, p. 36).
Embora existam divergências conceituais, podemos caracterizar os arranjos produtivos locais pela concentração geográfica de empresas de um mesmo segmento, não necessariamente com grande interação entre as mesmas, mas sendo verificável a obtenção de ganhos de eficiência comuns. Isso porque tal aglutinação implica na instauração de entidades importantes para o poder de competição das empresas, como fornecedores mais sofisticados, infraestrutura, serviços etc. Além disso, pode propiciar oportunidades práticas de cooperação e crescimento coletivo entre seus integrantes (Schmitz, 1997, apud Denk, 2002; Porter, 1990, apud Behr et al., 2010; Porter, 1999, apud Mafia, 2005, p. 36; Mafia, 2005, p. 47; Santos, Diniz & Barbosa, 2004).
Enfim, a localização próxima de firmas de um mesmo segmento advém da configuração de vantagens como: disponibilidade e qualificação de mão de obra, mercado consumidor, logística, acesso a fornecedores, tecnologia, serviços, informações comerciais etc. (Villaschi & Barros, 2004; Katz, 2000, p. 104, apud Fernades & Oliveira Junior, 2002; Gonçalves, 2001, apud Pessotti & Souza, 2006)
Dessa forma, a proximidade e interação entre diferentes firmas e outros atores institucionais tem o potencial de criar externalidades positivas, sendo importante para potencializar a inovação e a difusão de conhecimentos (Vargas, 2002 apud Villaschi & Barros, 2004; Cassiolato & Lastres, 2001, Pereira & Carvalho, 2008, apud Behr et al., 2010).
Porém, Villaschi & Barros (2004) ressaltam que a mera existência dessas vantagens não é suficiente para sustentar vantagens diferenciais de longo prazo em um mercado competitivo, sendo necessária a incorporação de rotinas de aprendizado e estratégias para inovação.

2. A Indústria de Móveis em Linhares
Na década de 1960, o Estado do Espírito Santo atravessou período de crise, diante da decadência no mercado de café e da falta de alternativas econômicas. Em 1962, foi elaborado um plano para erradicação dos cafezais menos produtivos no Brasil, que atingiu profundamente a lavoura capixaba. No entanto, com as indenizações decorrentes desse programa, surgiram oportunidade para implantação de novas atividades (Guedes, 2008, p. 64-65).
Nesse contexto, o movimento migratório para ocupação de terras no norte do Espírito Santo, particularmente na região dos municípios de Linhares e Colatina, dá início ao embrião do que irá se constituir no pólo moveleiro de Linhares, bem como no pólo de confecções de Colatina (Guedes, 2008, p. 67, 71).
Particularmente no município de Linhares, além do crescimento populacional decorrente desse processo de desocupação de terras e da mudança de investimentos da lavoura de café (expansão da cacaicultura, agropecuária, exploração madeireira), destaca-se a construção da BR 101 durante a década de 1960, o que propicia um cenário favorável ao crescimento econômico no decênio seguinte (Guedes, 2008, p. 71, 100; Villaschi & Bueno, 2002; Pereira & Campos, 2009; Sindimol, 2007).
Além da produção artesanal, em pequenas oficinas de marcenaria, o período de 1965 a 1975 verifica a implantação de quatro fábricas de compensados na região norte do Estado (Guedes, 2008, p. 84).
Quando uma dessas fábricas de compensado é desativada (a Mobrasa, localizada em Linhares), suas instalações são adquiridas pelos irmãos Rigoni, que já atuavam na fabricação de móveis. No local, em 1979, é instalada a produção de móveis seriados da fábrica Movelar, que acaba por ditar o perfil do pólo moveleiro a ser consolidado na região. É a partir da qualificação e especialização de mão de obra, bem como da difusão de informações e do sucesso alcançado por esse empreendimento, que se dará o estímulo para formação de outras empresas, inclusive por funcionários que deixaram a Movelar (Sindimol, 2007; Guedes, 2008, p. 88).
Assim, desde sua formação, as empresas do pólo moveleiro de Linhares apresentam uma cultura de seguir empresas líderes locais, através da absorção de mão de obra, definição de mercado de atuação, métodos de produção etc. (Sindimol, 2007)
Tal constatação está em acordo com o conceito de isomorfismo mimético, segundo o qual as organizações procuram soluções similares às de outras instituições que se encontrem ajustadas ao ambiente (organizações líderes). Trata-se de uma forma de evitar incertezas e riscos para as operações, de aumentar a probabilidade de se conseguir um melhor encaixe junto ao ambiente onde a empresa se insere (Rosseto & Rosseto, 2005).
Curiosamente, processo semelhante é verificado na formação de outros pólos moveleiros nacionais, como é o caso da cidade de Ubá, no Estado de Minas Gerais, a partir do estabelecimento de uma grande empresa (Dolmani) na década de 1970 (Mafia, 2005, p. 56).
Tanto no pólo moveleiro de Ubá quanto no de Linhares, verifica-se a predominância de uma cultura de competição entre as empresas, que muitas vezes se vêem como concorrentes, o que gera desconfiança mútua e dificulta a maior troca de conhecimentos, integração e aprendizado coletivo (Villaschi & Barros, 2004;  Pessotti & Souza, 2006; Fandiño, Chrispim & Castro Junior, 2005).
Não obstante, observa-se que, no pólo moveleiro de Linhares, o processo de interação entre as empresas, particularmente desde a fundação do Sindicato das Indústrias da Madeira e do Mobiliário de Linhares (Sindimol), em 1987, vem propiciando o surgimento de atividades conjuntas. Por exemplo, pode-se destacar: a formação de grupos de compra para matérias-primas e maquinário; parcerias em vendas e produção (produtos ofertados em conjunto, porém com fabricação em empresas distintas); formação de redes de terceirização (desverticalização da produção); estímulo para instalação de empresas que agreguem vantagens competitivas à produção local (como fábrica de embalagens); programas de qualificação de mão de obra e representatividade setorial quanto à tributação, diante de políticas de desoneração adotadas em pólos moveleiros de outras regiões (Sindimol, 2007).
Em consulta direta aos empresários locais, Villaschi & Barros (2004) verificaram, dentre os fatores advindos da vantagem de localização: disponibilidade de mão de obra qualificada, infraestrutura, proximidade de clientes e fornecedores, serviços técnicos especializados, entre outros.
Destaca-se o maior crescimento do pólo moveleiro de Linhares a partir da consolidação do Plano Real (segunda metade da década de 1990), quando, com a maior abertura da economia, os empresários passaram a visitar feiras internacionais e fábricas no exterior, incorporando novos conceitos em seu parque fabril. Atualmente o município de Linhares constitui um dos principais pólos moveleiros do Brasil (Villaschi & Bueno, 2002; Villaschi & Barros, 2004; Rosa et al., 2007; Silva & Santos, 2005).



REFERÊNCIAS CONSULTADAS:

ALBINO, Andréia A.; LIMA, Afonso A. T. de F. de C.; SOUZA, Sebastião D. C. de S.; BEHR, Ricardo R.; OLIVEIRA, Ronise S. de; SILVA, Fernanda C. da. Políticas Públicas e os Determinantes da Vantagem Competitiva Local em um APL Moveleiro. Revista de Ciências Humanas, v. 8, n. 2, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, jul./dez., 2008. Disponível em: <http://tinyurl.com/q2lyvoy>. Acesso em: 10 jul. 2013.

BEHR, Ricardo R.; ALBINO, Andréia A.; LIMA, Afonso A. T. de F. de C.; SOUZA, Sebastião D. C. de S.; OLIVEIRA, Ronise S. de Análise Sobre Ação Empreendedora e Políticas Públicas no APL Moveleiro de Ubá, MG. Revista de Administração da UFSM, v. 3, n. 2, 2010. Disponível em: <http://tinyurl.com/nlr262p>. Acesso em: 14 jul. 2013.

DENK, Adelino. Pólos Moveleiros: São Bento do Sul (SC). Curitiba: Alternativa, 2002.

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FERNANDES, Cândido L. de L.; OLIVEIRA JUNIOR, Roberto H. de. Cluster no Setor Moveleiro: um Estudo das Potencialidades da Região de Ubá (MG). In: X Seminário sobre a Economia Mineira, 2002. Disponível em: <http://tinyurl.com/o8r3mpt>. Acesso em: 10 jul. 2013.

GUEDES, Paulo C. P. Emergência do Pólo Moveleiro de Linhares e Políticas Para o Setor no Espírito Santo (1960-1995). Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Vitória-ES, 2008. Disponível em: <http://tinyurl.com/mnysf6b>. Acesso em: 30 ago. 2013.

MAFIA, Roseluci J. R. Ubá e Região Metropolitana de Belo Horizonte: um Estudo Comparativo Entre Dois Pólos Moveleiros. Dissertação (Mestrado em Administração). Faculdades Integradas de Pedro Leopoldo, Fundação Cultural Dr. Pedro Leopoldo. Pedro Leopoldo-MG, 2005. Disponível em: <http://tinyurl.com/kkklddv>. Acesso em: 30 ago. 2013.

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VILLASCHI, Arlindo; BUENO, Flávio de O. A Indústria no Brasil. In: IPEA, ABIMÓVEL. Pólos Moveleiros: Linhares (ES), Ubá (MG) e Bento Gonçalves (RS). Curitiba: Alternativa, 2002.