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26 de ago. de 2012

Frederick Taylor


Na busca pela maior eficiência no processo produtivo, grande destaque merece o injustiçado americano Frederick Winslow Taylor (1856-1915).
Aos 18 anos, Taylor abandonou os estudos e teve uma experiência de 6 anos trabalhando em duas oficinas de produção de máquinas. Nesse período, onde avançou do posto de aprendiz até chefe de produção, esteve em contato direto com problemas referentes à produtividade e à questão da autorregulação dos trabalhadores - com o pagamento de prêmio por peça produzida, os funcionários procuravam um nível cômodo de trabalho que garantisse um determinado rendimento com o mínimo de esforço (problema muito comum ainda hoje em dia, principalmente em setores intensivos em mão de obra).
(...) Os ingleses e americanos são os povos mais amigos dos esportes. Sempre que um americano joga basquetebol ou um inglês joga cricket, pode-se dizer que eles se esforçam, por todos os meios, para assegurar a vitória à sua equipe. Fazem tudo a seu alcance para conseguir o maior número possível de pontos. O sentimento de grupo é tão forte que, se algum deixa de dar tudo de que é capaz no jogo, é considerado traidor e tratado com desprezo pelos companheiros.
Contudo, o trabalhador vem ao serviço, no dia seguinte, e em vez de empregar todo seu esforço para produzir a maior soma possível de trabalho, quase sempre procura fazer menos do que pode realmente – e produz muito menos do que é capaz; na maior parte dos casos, não mais do que um terço ou metade dum dia de trabalho, é eficientemente preenchido. E, de fato, se ele se interessasse por produzir maior quantidade, seria perseguido por seus companheiros de oficina, com mais veemência, do que se tivesse revelado um traidor no jogo. Trabalhar menos, isto é, trabalhar deliberadamente devagar, de modo a evitar a realização de toda a tarefa diária, fazer cera, soldering, como se diz neste país, handing it out, como se chama na Inglaterra, can caen como é designado na Escócia, é o que está generalizado nas indústrias e, principalmente, em grande escala, nas empresas de construção. Pode-se afirmar, sem medo de contestação, que isto constitui o maior perigo que aflige, atualmente, as classes trabalhadoras da Inglaterra e dos Estados Unidos. (Taylor, 1990, p. 27)
Assim, quando voltou a cursar engenharia (1880-1885) Taylor já tinha uma experiência prática que lhe qualificava para o aprofundamento das questões pertinentes à otimização do trabalho e aumento da produtividade. Dessa forma, enfatizou sua atuação no estudo e aperfeiçoamento do uso de ferramentas, instalações, materiais e do tempo de trabalho, formando um conjunto de idéias sistematizadas em torno da melhoria produtiva, destacado em seu livro Principles of Scientific Management.
Além de levar em conta a necessidade de melhor alocação e uso dos recursos, Taylor considerou os aspectos sociais e psicológicos do ser humano em relação ao trabalho, de modo que entendia ser necessário que os ganhos de produtividade fossem usados também para aumento do rendimento do trabalhador, sem deixar de enfatizar a importância da melhoria contínua.
(...) o objetivo mais importante de ambos, trabalhador e administração, deve ser a formação e o aperfeiçoamento do pessoal da empresa, de modo que os homens possam executar em ritmo mais rápido e com maior eficiência os tipos mais elevados de trabalho, de acordo com suas aptidões naturais. (Taylor, 1990, p. 26)
Para quebrar o hábito de autorregulação dos trabalhadores por um ritmo menor de produção, Taylor defendia um salário maior, dentro de um limite no qual o trabalhador continuasse a se empenhar, mas sem torná-lo acomodado. No exemplo a seguir, ele compara uma função de baixa qualificação - descarregar vagões -, onde uma empresa, mesmo oferecendo maiores prêmios por número de vagões descarregados, perdeu trabalhadores para outra empresa que, embora oferecesse um valor menor por vagão, graças à ação coordenada de supervisores técnicos com base em estudos de tempo e movimento, propiciava um salário final maior:
Longa série de experiências, acompanhadas de cuidadosa observação, havia demonstrado que os trabalhadores deste tipo [faz referência ao trabalho de descarregar vagões, de baixa qualificação], aos quais é dada uma tarefa cuidadosamente especificada, exigindo de sua parte grande trabalho diário e que em restrição a este esforço excedente recebem até 60% mais do que o salário comum, e que se tornam não só mais vigorosos, como também melhores sob vários aspectos, vivem um pouco melhor, começam a economizar dinheiro, tornam-se mais sóbrios e trabalham com mais constância. Quando, porém, eles recebem mais que 60% além do salário, muitos deles trabalham irregularmente e tendem a ficar negligentes e dissipados. Por outras palavras, nossas experiências demonstram que para a maioria dos homens não convém enriquecer depressa. (Taylor, 1990, p. 61)
O trabalho de Taylor, começou a chamar a atenção para a gestão das políticas internas das organizações, da formação, orientação e coordenação dos indivíduos, considerando questões que vão além da mera estrutura operacional do trabalho.
Vemos e sentimos o desperdício das coisas materiais; entretanto, as ações desastradas, ineficientes e mal orientadas dos homens não deixam indícios visíveis e palpáveis; a apreciação delas exige esforço de memória e imaginação. E por isso, ainda que o prejuízo diário, daí resultante, seja maior que o decorrente do desgaste das coisas materiais, este último nos abala profundamente, enquanto aquele apenas levemente nos impressiona. (Taylor, 1990, p. 22)
Embora a assertiva de Taylor, que a especialização do trabalho levaria a uma maior eficiência na administração, seja objeto de discussão, suas idéias em torno do estudo da alocação de recursos e do tempo de trabalho ainda encontram respaldo nos dias atuais, notadamente quando se trata de melhoria de produtividade em plantas fabris.
Com todas suas estranhas suposições, falsas premissas e exageradas supersimplificações, a obra de Taylor deixou uma influência profunda principalmente em seus seguidores: Gant, Gilbreth e muitos outros menos conhecidos membros do Movimento de Administração Científica. Daí nasceu o Estudo de Tempos e Movimentos, a Engenharia Industrial, a Organização e Métodos e, em boa parte, a Administração de Pessoal. Os “Princípios” de Taylor, apesar de criticados ainda hoje servem como “critérios” gerais para o treinamento da supervisão (...) (Lodi, 1978, p. 34)
Tal ponderação também é feita por Chiavenato na passagem seguinte:
(...) Como pioneiro, o maior mérito de Taylor está realmente na sua contribuição para que se encarasse sistematicamente o estudo da organização, o que não só revolucionou completamente a indústria como também teve um grande impacto sobre a Administração. Sua obra não deve ser avaliada em termos de um ou outro de seus elementos, mas, principalmente, pela importância de uma metodologia sistemática na análise e na solução dos problemas da organização. (Chiavenato, 1997, p. 61)
A sistematização e especialização propostas por Taylor implicam uma compreensão restritiva da natureza humana e do relacionamento do homem com o trabalho. O foco de Taylor é o melhor uso dos recursos na organização, com o intuito de gerar maior riqueza (mais lucros e salários). Seus estudos em busca de uma maior produtividade enfatizam o trabalhador agindo sob supervisão de chefes que coordenariam a correta alocação dos recursos e tarefas. Conforme exemplificado na figura a seguir, o prêmio de produtividade é estabelecido proporcionalmente a partir do ponto onde é atingida determinada meta:

                     

Percebemos em Taylor o conceito de homo economicus, onde a natureza humana tem uma base materialista que se motivaria pelo trabalho apenas em função de ganhos materiais diretos. Advém da obra de Taylor a limitação do potencial de desenvolvimento humano, haja vista a sempre necessária coordenação e controle para se alcançar maior eficiência no trabalho, bem como a necessidade de se considerar as restrições físicas e pessoais a cada função particular, enfatizadas nos critérios de seleção de pessoal – ou seja, a prioridade é considerar as características dos indivíduos em relação ao trabalho, e não o desenvolvimento dos indivíduos na interação com o trabalho.
Necessário dizer ainda que o incremento da produtividade, com que Taylor defendia o aumento de lucros e salários, também teria reflexos diretos na sociedade, dado o potencial de maior disponibilização de produtos e serviços com um menor uso de recursos (menor custo).
Infelizmente, paira sobre a obra de Taylor a crítica injusta que o taylorismo se trataria apenas de exploração do trabalho (talvez por causa da visão limitada do papel do trabalhador frente ao processo produtivo). Não se reconhece devidamente sua concepção de busca pela geração de valor, pelo aumento de rendimentos (incluindo salários), e do ganho social, conforme exposto acima.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. 5. ed. São Paulo: Makron Books, 1997
LODI, João Bosco. História da Administração. 6. ed. São Paulo: Pioneira, 1978.
TAYLOR, Frederick W. Princípios de Administração Científica. 8. ed. São Paulo: Atlas, 1990.


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